Plano ABC ajuda pecuarista a recuperar 26,8 mi de hectares de pastagens degradadas.

Um levantamento recentemente divulgado pelo Lapig/UFG, o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás, apontou que entre 2010 e 2018, período de influência do Plano ABC, política nacional de incentivo à Agricultura de Baixo Carbono, houve recuperação de 26,8 milhões de hectares de pastagens degradadas nas áreas mais impactadas pela iniciativa, número quase 80% superior à meta original do programa, de 15 milhões de hectares.

Nas áreas de contratos do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) para Recuperação de Pastagens Degradadas (RPD), a área total com pastagens classificadas como Degradação Severa reduziu de 34,3% para 25,2% no período avaliado. A análise de cerca de 5,5 milhões de propriedades, conforme os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), também sugere um aumento nas áreas de pastagens classificadas com Degradação Leve e Não Degradada. Em termos proporcionais, e considerando este conjunto de propriedades, o aumento mais expressivo foi para a classe Não Degradada, de aproximadamente 94,7 %”, consta em comunicado oficial no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Nesta terça, dia 08, a diretora do departamento de produção sustentável e irrigação do Mapa, Mariane Crespolini, celebrou o resultado durante entrevista ao Giro do Boi e destacou o papel do produtor rural na conquista.

“O protagonismo disso é do produtor rural. O governo simplesmente fomentou as tecnologias, ajustou taxas de juros, mas quem tomou a iniciativa, quem teve a coragem de sair de um sistema extensivo […] e adotar um novo sistema que exige uma mão de obra mais qualificada, uma maior capacidade de gestão, quem fez isso foi o produtor rural. Então até a nota de divulgação do Mapa nós colocamos que isso mostra que os nossos produtores rurais, quando são devidamente incentivados, com assistência técnica, crédito, eles têm condições para adotar essas tecnologias, eles respondem e eles são protagonistas por esses resultados”, reconheceu Crespolini.

Pela linha de crédito destinada à recuperação das pastagens degradadas foram contratados cerca de R$ 19 milhões, mas a diretora do Mapa revelou que o incentivo serviu de fagulha para o produtor rural avançar por meio de recursos próprios.

“No caso recuperação de pastagens degradadas, foram financiadas dentro da linha de crédito quatro milhões de hectares. E aí o que o estudo do Lapig inovou foi em mostrar para a gente quanto o produtor fez a mais, muitas vezes com capital do próprio bolso. Então a linha de crédito é um indicativo, mas essa nossa busca que fizemos para recuperação de pasto pelas imagens de satélite foi porque o produtor fez muito com capital próprio”, analisou.

Crespolini comentou quais foram as áreas que mais se destacaram em recuperação de áreas degradadas. “O Centro-Oeste melhorou muito, então naquele cinturão que passa Mato GrossoGoiás, aqui por essa região de Brasília, o mapa mostra que houve uma melhora muito expressiva, principalmente aquelas áreas que eram de pastagens severamente degradadas e hoje estão em boas condições”, observou.

Por outro lado, a diretora do Mapa indicou quais são as regiões que ainda precisam de incentivos específicos para alcançar resultados tão expressivos quanto. “Uma área que demanda atenção e que ficou claro para a gente, e foi até interessante observar como as nossas políticas então em sinergia, foi o Nordeste. Então para os próximos dez anos do Plano ABC, nós estamos olhando para a especificidade de cada bioma. Falar de sistemas integrados, a produção de caprinos no Nordeste, ela merece toda uma atenção especial na Caatinga. […] É uma região que ainda é muito crítica. O Nordeste tem muita área degradada. A Bahia hoje tem o menor índice de taxa de lotação por hectare de pastagem. É uma área que merece atenção. Ainda existem manchas de pastagens severamente degradadas no Centro-Oeste, que vão ser foco de atenção do Estado para os próximos dez anos, mas o Centro-Oeste foi o coração, onde houve a grande recuperação de pastagens degradadas”, resumiu Mariane.

Além de confirmar que o Plano ABC continuará com sua política de incentivos à agropecuária de baixo carbono, Crespolini adiantou quais tecnologias poderão servir para o processo de evolução da sustentabilidade do setor dentro do programa.

“Uma das tecnologias que nós estamos discutindo é a suplementação estratégica e a terminação intensiva. Então quando eu faço a suplementação estratégica durante o período das águas e eu forneço grãos, eu faço a terminação intensiva, seja no semiconfinamento, no sistema de piquetão ou mesmo no confinamento nos últimos 90 a 100 dias de vida do animal”, projetou.

A diretora indicou que tecnologias como essa podem reduzir a emissão de gases que causam o efeito estufa diminuindo a idade de abate dos animais, acelerando o seu ciclo produtivo e evitando que ele permaneça ruminando na fazenda por pelo menos mais uma estação de seca. “A gente pode abater o animal mais jovem, com uma carne de melhor qualidade, com acabamento de carcaça. Então essa tem sido uma das tecnologias discutidas e sempre baseado em ciência”, reforçou.

Além desses incentivos à intensificação da produção, Mariane acrescentou que o produtor rural pode buscar as linhas de crédito do programa de política nacional para a mera regularização ambiental. “Para acrescentar, o Plano ABC é uma política nacional e atende quem tem déficit de reserva legal ou APP. Na linha de crédito do Programa ABC, que tem a segunda menor taxa de juros dentro do Plano Safra, existe o Programa ABC Ambiental. Então se você não está regularizado ambiental, você pode buscar o financiamento para fazer essa regularização”, orientou.

Moldando o sistema de produção para um modelo mais intensivo e sustentável, o setor ganha força não só internamente, como também fidelizando seus consumidores em todo mundo, conforme opinou Crespolini. “Quanto mais a gente puder mensurar e provar para o mundo, como foi feito no estudo do Lapig, o quanto a gente está sendo sustentável, maiores são as oportunidades de mercado para os nossos produtos”, relacionou.

“O que a gente pode observar no Brasil é que o país tem potencial para fornecer uma proteína a preços acessíveis, que garanta segurança alimentar para a população mais carente, e essa é uma função social muito forte que a gente tem na nossa produção de alimentos. E também isso está atrelado – não são coisas separadas – com a sustentabilidade ambiental, econômica e social”, frisou Crespolini.

Para trilhar o rumo da sustentabilidade e da produtividade que leva à segurança alimentar, Mariane lembrou da importância dos sistemas integrados de produção, que têm potencial para ajudar o produtor a lidar com um dos vilões de sua estabilidade – as variações climáticas. “Para os produtores que adotam plantio direto, a integração lavoura-pecuária, se faltar chuva, a quebra de safra deles é menor do que a do produtor convencional, que, por exemplo, não tem o solo protegido pela palhada e que mantém a umidade do solo por mais tempo. Então isso é adaptação a mudanças do clima”, exemplificou.

“O recado principal é que o Plano ABC não vai acabar, ele vai continuar, ele vai ser mais ambicioso e a principal novidade é que nos últimos dez anos, parte da ênfase do Plano ABC foi em mitigar carbono da atmosfera. A agricultura faz isso muito bem, esse sequestro de carbono. E toda a questão de clima, mudanças climáticas é uma tendência mundial. O consumidor vai exigir esse produto […]. Agora o que a gente está olhando para esses próximos dez anos? São tecnologias que fazem o sequestro de carbono, mas a gente tem que reforçar o papel da agropecuária na segurança alimentar. […] Nós temos uma demanda mundial, o Brasil tem uma responsabilidade com o mundo que é garantir o abastecimento alimentar”, assegurou.

FONTE: CANAL RURAL.

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