O primeiro semestre de 2021 foi bastante desafiador para a suinocultura independente, com balanço financeiro negativo na maioria das regiões, em função do alto custo de produção e do desequilíbrio entre oferta e demanda da carne suína. Já no quesito exportação, o mês de junho fechou com recorde de embarques de carne suína brasileira in natura em um só mês, totalizando 97,76 mil toneladas exportadas (tabela 1). No balanço do primeiro semestre deste ano, quando comparado com o mesmo período do ano passado, houve um aumento de 18,83% (+79,3 mil toneladas) no volume de carne suína brasileira in natura embarcada no total e de 27,06% para a China (+61,2 mil toneladas).
Para o segundo semestre existe uma certa apreensão do setor, em função da queda acentuada dos preços do suíno no mercado chinês, o principal destino da exportação brasileira e que já beira 60% do total embarcado. Porém, o USDA, em relatório recente, estima que o gigante asiático deverá fechar o ano com uma importação ao redor de 5 milhões de toneladas de carne suína, mais do que as projeções anteriores (4,85 mm ton) feitas pelo mesmo órgão. O consultor de mercado da ABCS, Iuri Pinheiro Machado, explica que o crescimento percentual das exportações brasileiras observado no primeiro semestre não deverá se repetir até o final do ano, “Pois o segundo semestre de 2020 já apresentava patamares mais elevados e seria preciso a habilitação de mais plantas para ultrapassar consistentemente a barreira de 100 mil toneladas mensais de carne in natura exportada. Mas ainda projeta-se fechar o ano com crescimento superior a 10% em relação a 2020. A princípio esta questão de baixo preço do suíno na China não deve ser motivo de preocupação, mas é preciso acompanhar a demanda nas próximas semanas para que esta tendência se confirme.”
No mercado doméstico a retração econômica agravada pela persistência da pandemia de covid-19, além da queda do poder aquisitivo e da pressão inflacionária, determinou oscilações na demanda por carne suína. Embora o preço das carcaças (gráfico 1) e o valor pago ao produtor ao longo de todo primeiro semestre de 2021 tenha sido superior ao do mesmo período do ano passado, este aumento não foi suficiente para determinar margens positivas, em função de que o custo de produção (puxado pela alta dos preços do milho e do farelo de soja) subiu proporcionalmente muito mais que o suíno.
A tabela 2, com dados da EMBRAPA e CEPEA, compara custos e preços praticados e projeta o lucro/prejuízo nos três estados do Sul no primeiro semestre de 2021, comparando com 2020, mostra um quadro negativo no acumulado deste ano. Observa-se que o pico de custo foi atingido em maio/21, ultrapassando os R$ 7,00 por kg vivo produzido nos três estados.
Em junho houve um pequeno recuo no custo, em função da expectativa do início da segunda safra de milho. Porém, as condições reais da safra e as últimas projeções fizeram com que o milho retomasse o viés de alta em julho, fazendo com que o custo de produção se mantenha acima de sete reais/kg produzido na maioria das regiões produtoras.
Com relação ao mercado doméstico, para o segundo semestre de 2021, dois fatores devem contribuir para que o preço do suíno seja bem superior ao do primeiro semestre. O primeiro é a ampliação da população vacinada contra covid-19, determinando a recuperação paulatina da atividade econômica e o segundo fator é o aumento sazonal da demanda, especialmente com a aproximação dos festejos de final de ano. Outro fator que chama a atenção neste momento é o crescente preço do frango (gráfico 2).
Em valores nominais a carcaça resfriada de frango nunca esteve tão cara, atingindo, no dia 19/07/21, o valor de R$ 7,67/kg em São Paulo, enquanto, no mesmo dia, a carcaça suína especial era cotada a R$ 9,73 (Cepea), um spread inferior a 30%, bem abaixo da diferença histórica entre as duas carnes no atacado. Porém, é preciso atentar que o spread do varejo em relação ao atacado no frango é o mais baixo dos últimos anos (gráfico 3), indicando que as margens dos supermercados estão bastante reduzidas frente ao aumento sucessivo do preço da carcaça de frango ao longo de 2021.
Gráfico 3. Spread Varejo/atacado do frango abatido de jan/2018 a maio/21. Fonte: MBAgro
Quebra da segunda safra de milho mantém viés de alta nos custos de produção
Estamos diante de uma das maiores quebras de safra de milho dos últimos anos, em função da falta de chuvas na região Centro-sul do Brasil. A CONAB divulgou no dia 8 de julho o décimo levantamento da safra 2020/21, com uma redução ainda maior na projeção de colheita em relação ao levantamento anterior. A redução foi de quase 3 milhões de toneladas, determinando um total na segunda safra da ordem de 67 milhões de toneladas que somadas a primeira e terceira safras totalizariam 93,4 milhões de toneladas na safra 2020/21. Mantendo a projeção de exportação de milho em 29,5 milhões de toneladas e as importações em 2.3 milhões de toneladas a Conab prevê um estoque final do ano-safra 2020/21, em janeiro do ano que vem, de 5,4 milhões de toneladas (tabela 3).
Alguns analistas acreditam que a quebra deverá ser maior do que a projetada pela CONAB, pois a onda de frio ocorrida no final de junho comprometeu muitas lavouras, especialmente no estado do Paraná. O MBAgro estimou uma perda potencial por geadas entre 2,2 e 4,5 milhões de toneladas de milho, projetando esta segunda safra de milho entre 58 e 61 milhões de toneladas, bem abaixo dos números da CONAB. Num cenário de quebra ainda maior da safra, não haveria outro caminho para garantir o abastecimento do mercado doméstico senão a redução das exportações de milho. De fato, já se percebe o que se chama de washout, que é o cancelamento de contratos de exportação com a “recompra” do milho para o mercado interno.
Segundo levantamento da Reuters junto a traders e corretores, grande parte do milho que seria destinado à exportação está sendo redirecionada para o mercado doméstico, já que os prêmios se tornaram atraentes devido à quebra de safra. Segundo a agência, alguns dos negócios de exportação do cereal que agora estão sendo cancelados haviam sido fechados entre R$ 40 e R$ 45 reais por saca de 60 kg, porém, compradores domésticos estão dispostos a pagar de R$ 90 a R$ 95 por saca, justificando os washouts. Diante deste cenário de escassez, ainda relativamente longe do início da safra norte-americana, o milho voltou a se aproximar do valor de R$ 100/sc de 60kg em várias praças.
Como uma alternativa para auxiliar os produtores nesse cenário, o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, comenta: “todas as medidas no sentido de garantir o abastecimento de milho devem ser tomadas e, portanto, as entidades representativas do setor de carnes pleiteiam, além da retirada das tarifas de importação do grão da América do norte (já em vigor), a isenção do PIS/Cofins do milho importado com destinação para a alimentação animal, em especial para os produtores que não operam na modalidade de Drawback. Para o segundo semestre, apesar da quebra de safra do milho que manterá os custos em alta, há uma expectativa de recuperação do preço de venda do suíno, em função do esperado controle da pandemia através da vacinação e a maior demanda sazonal de carne suína a medida que nos aproximamos do final do ano”, finaliza.
FONTE: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE SUÍNOS.