A expedição técnica e científica Caravana ILPF chegou este mês à região meio-norte do Nordeste. Composto por pesquisadores da Embrapa, técnicos e associados da Rede ILPF e parceiros, o grupo percorre diversos estados, com ações previstas até o final de 2023, para difundir a tecnologia de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e ampliar a área com esse tipo de sistema no Brasil.
A caravana passou pelos municípios de Santa Inês (MA), Itapecuru Mirim (MA), Chapadinha (MA), Anapurus (MA), Piracuruca (PI) e Teresina (PI), onde foram abordados os principais aspectos da tecnologia, de acordo com as características e potenciais de cada local. A passagem da Caravana ILPF prevê dias de campo, palestras, oficinas, visitas institucionais e técnicas a produtores rurais, cooperativas, universidades, centros de pesquisa e diversos segmentos do agronegócio públicos e privados.
Para Marco Bomfim, chefe da Embrapa Cocais, a ILPF é uma tecnologia de produção que embarca o que a Embrapa tem de mais robusto para atender a demanda crescente de produção de alimentos com menos impacto ambiental, tendo em vista que o sistema mitiga as emissões de carbono da pecuária. “A caravana, além de difundir a tecnologia aplicada em unidades de referência tecnológica (URTs) implantadas nas fazendas parceiras, também tem o benefício de ouvir os produtores para aprimorá-la, fortalecendo a inovação aberta. Além disso, parcerias público-privadas envolvidas na iniciativa formam a Associação Rede ILPF e mostram que o evento é a materialização do esforço conjunto em torno de tecnologia já validada e com grande potencial de produção integrada e sustentável”, avalia.
Anísio Lima, chefe da Embrapa Meio-Norte, diz que a ILPF vem sendo pesquisada pela Embrapa há mais de 25 anos e consolida-se como uma alternativa para a sustentabilidade na produção de grãos e de proteína animal. “A tecnologia é hoje política pública do Governo Federal. O sistema, ao levar descarbonização aos sistemas de produção, torna a Embrapa, mais uma vez, protagonista do desenvolvimento da agropecuária brasileira, confirmando que somos produtores de proteína animal com sustentabilidade”.
No Maranhão e Piauí, além da parceria com a Embrapa Cocais e Embrapa Meio-Norte, a Caravana ILPF conta com o apoio do Projeto Desenvolvimento Agrícola Sustentável, executado pela Associação Rede ILPF e Embrapa, em parceria com a Cooperação Brasil-Alemanha por meio Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, pelo Programa Cadeias Sustentáveis, com a colaboração do Governo do Maranhão.
Caravana no Meio-Norte
O grupo da expedição técnico e científica começou as atividades na URT da Embrapa Cocais e da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), instalada na fazenda Muniz, onde existem modelos de ILPF com babaçu, eucalipto, sabiá e gado. O proprietário Luciano Muniz, que também é professor da UEMA, implantou o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta há sete anos e conduziu a apresentação da propriedade.
“Ter participado da Caravana proporcionou a troca de experiência com profissionais de outras regiões do País e pude conhecer as particularidades da ILPF em outros locais do Maranhão. A Caravana promoveu a integração dos participantes, o surgimento de oportunidades de projetos de pesquisas integrados e apoio às pesquisas que já estamos desenvolvendo por meio do Grupo de Inovação em Sistemas Integrados de Produção – GINTEGRA, nosso grupo de pesquisa”.
Joaquim Costa e Guilhermina Cayres, chefes de pesquisa e desenvolvimento e de transferência de tecnologia da Embrapa Cocais, falaram sobre os projetos da Unidade desenvolvidos na fazenda e região. “Eventos como esses são muito importantes para disseminarmos a ILPF de uma maneira bastante clara e falarmos sobre os benefícios financeiros, produtivos e sociais da tecnologia ILPF”, destacou Joaquim Costa.
Para Guilhermina Cayres, a Caravana ILPF representa uma oportunidade de divulgar uma tecnologia da Embrapa que vem se consolidando por meio de parcerias com instituições públicas e iniciativa privada. “Ainda há muitos desafios a serem superados, mas a Caravana mostra que, apesar das dificuldades, existem iniciativas de excelência, como a Fazenda Barbosa, que é um case que merece ser divulgado como referência de ILPF do Brasil, não somente pelos benefícios ambientais e econômicos, mas também pelos benefícios sociais e de formação de novas gerações de profissionais atuantes na ILPF, o que abre perspectivas para um novo olhar sobre a ILPF como estratégia de transferência de tecnologia e incentivo ao surgimento de nova geração de empreendedores agropecuários. A presença de estudantes em todos os municípios por onde a Caravana passou mostra que existe interesse em conhecer mais sobre a tecnologia com uso de práticas integradas e complementares, que promovem atividades e negócios sustentáveis”.
Durante a Caravana, ocorreram três oficinas Adopt, ferramenta agropecuária para identificar e otimizar a adoção de modelos da tecnologia mais aplicáveis na região. As oficinas foram ministradas pelo coordenador da Caravana ILPF, o pesquisador Marcelo Müller, da Embrapa Gado de Leite. Além da visita técnica a URT de ILPF, também ocorreu no primeiro dia da Caravana, uma oficina Adopt no município de Santa Inês-MA e contou com a participação de técnicos, pesquisadores e representantes de vários setores do segmento agropecuário do município.
A parada seguinte da Caravana ILPF foi em Itapecuru Mirim-MA, onde também foi aplicada oficina Adopt para técnicos agropecuários. Estudantes da Casa familiar Rural do Povoado de Serra participaram de um bate-papo sobre ILPF e conheceram um pouco mais sobre os projetos desenvolvidos para as melhorias da cadeia do extrativista do babaçu. “Trabalhos com esse público são muito importantes para levar informação para os públicos participantes e formação para estudantes, prestes a entrar no mercado profissional,” afirmou Marcílio da Frota, um dos palestrantes do evento.
No dia seguinte, as ações continuaram em Chapadinha-MA e Anapurus-MA, onde foram abordados casos de sucesso com ILPF na região e oportunidades e benefícios do Selo Brasil Agrossustentável, certificação conquistada recentemente por três agricultores da região. “Conquistas como essas mostram que estamos no caminho certo. Com o selo, várias portas serão abertas”, afirma Victor Barbosa, proprietário da fazenda Barbosa, que recebeu o selo ouro durante o evento.
Para a filha do produtor, Viviana Barbosa, médica veterinária, o bem-estar animal propiciado pela ILPF traz retorno financeiro. “Sem sombra, o animal não consegue se alimentar direito. Sobre a Caravana, consideramos importante a troca de experiência e informações entre produtores e pesquisadores de várias partes do país, bem como o esforço para viabilizar o acesso a linhas de crédito com condições especiais para aqueles comprometidos com o desenvolvimento sustentável da atividade”.
Na passagem por Piracuruca, já no Piauí, durante as atividades da Caravana ILPF, alunos de Agronomia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI e estudantes da Escola Técnica Professor Antônio Brito Fortes, além de representantes de entidades interessadas na tecnologia, participaram da palestra que abordou o caso de sucesso de ILPF da Fazenda Barbosa, de Brejo no Maranhão. Na ocasião, os pesquisadores da Embrapa Meio-Norte Henrique Antunes e Raimundo Bezerra falaram sobre sistemas integrados como sistemas indutores de agricultura sustentável. “Mostrar o potencial da tecnologia é de extrema importância para disseminar o assunto e avançarmos em área” enfatizou Henrique Antunes.
O último dia de atividades da Caravana ILPF nos estados do Maranhão e Piauí foi realizado na sede da Embrapa Meio-Norte, em Teresina. Rafael Maschio, da Associação Brasileira dos Produtores de Soja – Aprosoja, Henrique Nunes, da Embrapa Meio-Norte, e Lívio de Souza, diretor de fruticultura da Secretaria de Estado de Agronegócio e Empreendedorismo Rural – Seagro, conduziram o debate. “A Embrapa Meio-Norte trabalha há mais de 20 anos com modelo de agricultura que preserva o ambiente, aumenta a produtividade das culturas e diversifica a renda”, informou Paulo Fernando Viera, chefe-adjunto de Administração da Embrapa Meio-Norte.
ILPF no Brasil
A ILPF é uma tecnologia de produção agropecuária com grande potencial de mitigação de emissões de gases de efeito estufa e sequestro de carbono pelo solo e biomassa, além de uma série de outros benefícios socioambientais e econômicos. A implementação dos sistemas ILPF varia de acordo com as características de cada região. Segundo estimativas da Associação Rede ILPF para a safra 2020/2021, a área ocupada com os sistemas ILPF no Brasil corresponde a 17,4 milhões de hectares.
A Associação Rede ILPF tem o propósito de ampliar essa área para 35 milhões de hectares até 2030, além de diversificar os sistemas de produção e aumentar a representatividade do componente florestal nesses sistemas. Dessa forma, a ILPF irá contribuir para o alcance das metas apresentadas pelo Brasil em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) ao Acordo de Paris durante a COP-21 e reforçadas pelo Programa ABC+, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA e os compromissos assumidos na COP-26.
Sobre a Associação Rede ILPF
A Associação Rede ILPF é formada e cofinanciada pelas empresas Bradesco, Cocamar, John Deere, Soesp, Syngenta e pela Embrapa e tem como propósito contribuir para o aumento da produtividade de forma sustentável no campo. Atualmente apoia uma rede com 16 Unidades de Referência Tecnológica (URTs) e 12 Unidades de Referência Tecnológica e de Pesquisa (URTPs) distribuídas entre os biomas brasileiros. Atualmente há 22 Unidades de Pesquisa da Embrapa que trabalham com ILPF.
FONTE: www.embrapa.br
Foto: Isabel de Agostini