ARTIGO: Andreia de Oliveira Adami – Pesquisadora da área de Macroeconomia do Cepea.
Desde dezembro de 2019, quando foram reportadas na China, as infecções por coronavírus têm se alastrado por vários países e, em março de 2020, foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como pandemia. Para combater a disseminação da doença e seus efeitos sobre a saúde de seus habitantes, os governantes dos países têm adotado medidas de restrição de circulação de pessoas e mercadorias.
As limitações de atividades econômicas, por sua vez, têm levado o Fundo Monetário Internacional (FMI) e governos a revisarem para baixo as projeções de crescimento da economia global, com alastramento de suas consequências, inclusive sobre o comércio mundial, que deve recuar em 2020 frente ao ano anterior.
A China foi o primeiro país a decretar quarentena em três municípios da província de Hubei: Wuhan, Huanggang e Ezhou. Nesse período, com a paralisação das atividades, houve queda anualizada, até o primeiro bimestre de 2020, de 13,5% da produção industrial e de mais de 20% nas vendas do varejo, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (BNS). Desse modo, o país asiático também reduziu o ritmo de importações em 4% e das exportações, em 17%, no acumulado de janeiro a fevereiro/2020. Em março, as diminuições foram menores, de 6,6% nas exportações de 0,9% nas importações totais. E, para este mês de abril, a perspectiva é de que o país retorne à “normalidade”, caso não haja problemas de novas ondas de infecções.
Embora agentes portuários tenham relatado ocorrência de paralisações e atrasos na liberação de cargas nos portos chineses nos primeiros meses de 2020, a participação das exportações brasileiras para o país superou os 28%, um recorde para o período, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Esse resultado teve contribuição de um importante setor do agronegócio, o do complexo soja.
Em relação às importações chinesas dos produtos do agronegócio brasileiro, houve certa redução em janeiro, com recuperação em fevereiro e com mais força em março. No acumulado de janeiro a março, as exportações brasileiras do agronegócio ultrapassaram os US$ 21 bilhões, valor muito próximo ao registrado no primeiro trimestre de 2019 (com pequena redução de 0,4%). Ainda, a China manteve sua parcela de 34% de participação nesse total, semelhante à observada em 2019. Outros destinos que também sofrem com o alastramento da doença e ainda mantêm medidas de restrição à economia, como os países da União Europeia e os Estados Unidos, também mantiveram sua participação nas compras dos produtos brasileiros, de em torno de 17% e de 7%, respectivamente.
Em termos de produtos, os do complexo da soja representaram 35% das vendas externas do agronegócio de janeiro até março, as carnes, quase 19%, os florestais, 13%, o açúcar, quase 7% e o café, 6%. Os produtos do complexo da soja, florestais, café e do setor têxtil conseguiram superar as vendas externas, em termos de valor, no agregado do primeiro trimestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019.
O agronegócio é considerado setor essencial da economia e as projeções para 2020 têm sido mais animadoras do que para outros setores. A safra de produtos importantes como a soja, que está em final de colheita, deve ser recorde, e a oferta de outros produtos, como açúcar, milho e café, deve ser elevada.
Desse modo, a expectativa é de recuperação das vendas externas do agronegócio ao longo do ano, o que já se verificou em março, com a paulatina volta à normalidade das atividades econômicas na China e à medida que os principais parceiros do agronegócio brasileiro também consigam conter o agravamento da pandemia. Há, inclusive, perspectivas de que as vendas dos produtos do complexo da soja superem os valores dos embarques de 2019, conforme último relatório do USDA.
Em março, também houve a abertura de novos mercados, principalmente carnes, fruto de um esforço do Ministério da Agricultura (Mapa), que tem atuado para garantir o abastecimento doméstico e elevar as vendas externas do setor, mesmo durante a pandemia.
No entanto, ainda para o setor de frutas e carnes, pode haver ainda alguma dificuldade, no curto prazo, principalmente em relação à logística, uma vez que agentes que trabalham nos portos têm relatado problemas com a disponibilidade de contêineres refrigerados para que os embarques desses produtos ocorram normalmente.
FONTE: SITE CEPEA.