O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 218,23 milhões de cabeças (IBGE, 2016) e aproximadamente 190 milhões de hectares ocupados por pastagens (ANUALPEC, 2013), possuindo um grande potencial para aumentar a sua produção sem a necessidade de abertura de novas áreas.
A produção pecuária brasileira tem como base para a alimentação do seu rebanho as pastagens. As áreas anteriormente utilizadas exclusivamente pela pecuária passaram a disputar espaço nas últimas décadas com as atividades agrícolas, como as culturas da soja, milho, algodão, entre outras.
Estima-se que 80% dos quase 60 milhões de hectares das áreas de pastagem da região de cerrados apresentam algum estágio de degradação (MACEDO et.al., 2000).
Em áreas de pastagem implantada (reformas) sem o uso de tecnologias (como o correto preparo, correção da acidez e adubação do solo; uso de espécies forrageiras adaptadas às condições edafoclimaticas; uso de sementes de qualidade; taxa de semeadura adequada; e um bom manejo) podem, ao longo do tempo, diminuir a sua produtividade e se tornar improdutivas ou pouco produtivas devido a degradação.
As pastagens estão sujeitas a diversos fatores que podem prejudicar sua produtividade, e aqui podemos citar a fertilidade do solo, clima e incidência de pragas, doenças e plantas daninhas como fatores determinantes do sucesso da produção de forragem e, por consequência, da atividade pecuária (NUNES, 2001).
Nas imagens 1 e 2 podemos comparar uma pastagem com baixa produtividade e alta infestação de plantas daninhas de folhas largas, sendo este um dos principais fatores que contribuem para o processo de degradação; e outra com alto volume de capim sem a presença de plantas daninhas.
Imagem 1. Pastagem com baixa produtividade e alta infestação de plantas daninhas de folhas largas. Foto: Reginaldo Souza
Imagem 2. Pastagem com alto volume de capim sem a presença de plantas daninhas. Foto: Reginaldo Souza
Pastagens degradadas (imagem 1) é resultado de décadas de uso do solo de forma inadequada, sem a reposição de nutrientes que foram exportados com a produção de carne e leite. Estas áreas apresentam baixa rentabilidade dificultando a sua intensificação e a busca por uma pecuária mais produtiva.
Neste contexto, o uso de tecnologia é imprescindível para reverter a situação. O setor agropecuário tem uma relação direta com a evolução dos sistemas de produção, tal como o plantio direto (PD) e a integração lavoura-pecuária (ILP).
A integração lavoura-pecuária dentro da propriedade rural deve seguir em harmonia, criando um sistema onde há benefícios para ambas as atividades.
O principal objetivo da ILP é o cultivo do solo por boa parte do ano – em alguns casos, o ano todo – conseguindo um incremento na produção de grãos e aumento de ganho em carne e leite com custos mais baixos.
Na imagem 3 está visualmente organizada a possibilidade da intensificação do uso do solo com o componente animal em áreas de lavoura, podendo aumentar a receita por ha/ano.
Imagem 3. Intensificação do uso do solo com o componente animal em áreas de lavoura.
Os objetivos da integração lavoura-pecuária são:
1. Recuperação das pastagens degradadas
O intuito é conseguir boa parte dos custos com os grãos cultivados em pastagens degradadas. É recomendado o cultivo de grãos por 3 ou 4 anos antes de voltar com pastagens. E após 2 anos com pastagens é preciso voltar com lavoura novamente. E assim deve seguir o ciclo para evitar a formação de áreas degradadas.
No Mato Grosso, temos o exemplo da recuperação de áreas de pastagens degradas com a implantação da cultura do arroz que, por ser mais tolerante às condições de acidez, é considerada ideal para a recuperação das pastagens. O plantio visa a correção da acidez e da fertilidade do solo e também a geração de receita custear essas operações.
É muito importante que se mantenha os níveis de fertilidade alcançados nas culturas anteriores para que a pastagem possa apresentar alta produtividade e que não inicie um novo processo de degradação.
Na imagem 4 é possível perceber como a ILP pode mudar a realidade de áreas de pastagem degradadas para áreas produtivas.
Imagem 4. Área produtiva.
Uma pastagem produtiva e bem manejada pode agregar e muito na construção da fertilidade do solo com a adição de matéria orgânica, por exemplo.
2. Melhorias nas condições do solo em áreas de lavouras
Com o plantio de pastagens há um aumento significativo na quantidade de palhada, acima de 10t de matéria seca/ha. Além disso, há um aumento na quantidade de raízes ricas em carbono, fonte para os meso e micro organismos do solo. A decomposição das raízes formam galerias por onde aumenta a penetração de água e trocas gasosas, diminuindo a compactação dos solos mais argilosos (imagens 5 e 6).
Imagem 5. Foto: Pamella Marion
Imagem 6. Foto: Pamella Marion
3. Produção de volumoso, pastagem e grãos na estação seca
Para uma fazenda de pecuária, a ILP é muito importante pela recuperação das áreas degradadas e também pela produção de volumoso por meio do processo de ensilagem (imagem 7), que viabiliza o armazenamento do alimento que será fornecido para o rebanho durante o período de estiagem (imagem 8).
Imagem 7. Ensilagem. Foto: Edson Ciocchi
Imagem 8. Alimentação do rebanho em período de estiagem. Foto: Edson Ciocchi
Com a silagem, o pecuarista pode planejar suas atividades, desde a compra até o abate dos animais. Com o confinamento de parte do rebanho da fazenda, é possível ajustar a taxa de lotação das áreas de pastagem da propriedade e evitar, por exemplo, a necessidade de arrendamento de novas áreas.
Além da silagem e dos grãos, na integração lavoura-pecuária, a produção do consórcio milho e pastagem poderá ser utilizada no período da seca (imagens 9 e 10). Em função do perfil do solo ter sido corrigido, a raiz da forrageira se aprofunda buscando água na terra, propiciando um pasto mais verde e de boa qualidade durante a seca que servirá de fonte de alimentação para os animais que irão produzir carne ou leite na mesma área.
Imagem 9. Consórcio de milho e pastagem. Foto: Pamella Marion
Imagem 10. Consórcio de milho e pastagem. Foto: Hugo Oliveira
4. Redução dos custos de produção
A introdução de forrageiras no sistema de plantio direto para formação de palhada é uma boa estratégia nas regiões em que é muito ariscado plantar milho a partir de 15 de março.
Nas áreas onde a semeadura do milho é viável, a utilização do consórcio milho e braquiária é uma ótima alternativa para produção de grãos e aporte de massa vegetal no solo. Com este consórcio é possível diminuir ou diluir os custos de mão de obra, prestações de maquinário e de insumos, uma vez que se aduba uma cultura e se retira da terra duas, aumentando a taxa de lotação nos pastos durante a seca. Esta prática de cultivo vem crescendo nos estados PR, MS, GO e MT, devido aos excelentes resultados obtidos no sistema ILP nos últimos anos.
A implantação do sistema ILP
O capim-braquiária consorciado com milho vem crescendo muito na cultura da safrinha. Após a colheita da soja entrar com a semeadura do capim-braquiária de 5 a 10 kg/ha com VC acima de 60%.
A semeadura do capim é feita, em grande parte, a lanço de avião ou terrestre, dependendo do tamanho da área e da janela de plantio. Após a semeadura do capim, entrar plantando milho com plantadeiras de arrasto. A adubação é feita toda no milho.
Outra forma de plantio, já um pouco ultrapassada para a safrinha, mas ainda muito usada no verão, é a semente misturada junto ao adubo no dia do plantio (este procedimento deve ser feito no dia do plantio em função dos sais do adubo danificarem as sementes, levando-as até a morte dos embriões).
Informações importantes a respeito da implantação do sistema integração lavoura-pecuária
A adubação de cobertura segue inteiramente para o milho, levando em consideração a época de aplicação para não fazê-la junto com a aplicação de herbicidas. O correto é realizar a aplicação quando o milho estiver em V2 e no máximo em V4.
Nas aplicações de herbicidas não utilizar graminicidas. Quando houver a necessidade de fazer aplicação de graminicidas, fazê-lo em sub-doses para não matar o capim já emergido.
Os herbicidas de folhas largas podem ser usados normalmente, desde que se tenha cuidado com doses elevadas dos produtos. É preciso também respeitar o estádio de desenvolvimento do milho, nunca aplicando o herbicida após a 4ª folha, devido ao risco de travamento no desenvolvimento da cultura e uma possível fito oculta, que será percebida somente no momento da colheita, com a redução significativa da produtividade.
O manejo de pragas é um fator muito importante e, por isso, é preciso que seja feito com bastante acuidade, principalmente em híbridos de milho que contenham a tecnologia Bt. O capim não possui esta tecnologia, mas é preciso controlar a lagarta para que ela não aumente sua presença no consórcio.
A colheita é feita no sistema convencional, porém, vale ressaltar que a colheita do milho não deve atrasar. Após a senescência da planta de milho, as forrageiras tendem a crescer vigorosamente, podendo causar embuchamento ou redução da velocidade de colheita da máquina.
Uso de herbicidas em pastagem pensando na implantação do sistema ILP
Os herbicidas da linha de pastagem da Corteva Agriscience™ são seletivos às gramíneas forrageiras, ou seja, controlam as plantas de folhas largas e não causam injúrias ao capim, diferente do uso de roçadeiras, que eliminam a parte aérea de todas as plantas presentes no pasto. Esses herbicidas são sistêmicos, pois quando aplicados são absorvidos, controlando a parte aérea e o sistema radicular de forma muito eficiente.
O uso de herbicida elimina a competição causada pelas plantas daninhas, assim, a forrageira pode expressar todo seu potencial na produção de massa verde, com consequente aumento da capacidade de suporte.
Em áreas de pastagem que serão utilizadas futuramente em sistema ILP é recomendado utilizar herbicidas com baixo residual para plantas sensíveis como a soja, algodão, feijão, entre outras. Pensando nisso, a Corteva Agriscience™ oferece o herbicida Truper®, que pode ser aplicado em plantas daninhas em área de pastagem permitindo a rotação de culturas subsequentes ao pasto.
Referências:
ANUÁRIO DA PECUÁRIA BRASILEIRA -ANUALPEC. Pecuária de corte: estatísticas. São Paulo: Instituto FNP Consultoria & Comércio, 2013.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Sistema de recuperação de informações – SIDRA. Homepage IBGE, Brasília, 2010. Disponível em: http:/www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 20 Jun. 2018.
MACEDO, M. C. M.; KICHEL, A. N.; ZIMMER, A. H. Z. Degradação e alternativas de recuperação e renovação de pastagens. Campo Grande: Embrapa – CNPGC, 2000. 4 p. (Comunicado Técnico, 62).
NUNES, S.G. Controle de Plantas Invasoras em Pastagens Cultivadas nos Cerrados. Embrapa Gado de Corte: Campo Grande/MS, p.35, 2001. Documento 117.
FONTE: BLOG AGRONEGÓCIO EM FOCO.