Qual é o grande desafio estrutural da pecuária nos próximos anos?

Nesta quinta, 23, o engenheiro agrônomo pela ESALQ/USP e analista de mercado Ivan Wedekin, diretor da Wedekin Consultores e autor do livro “Economia da pecuária de corte – Fundamentos e o ciclo de preços”, apresentou em entrevista ao Giro do Boi o principal desafio da pecuária para ganhar competitividade frente às proteínas concorrentes nos próximos anos.

“Nós queremos comprar celulares, geladeiras e televisores cada vez mais baratos. E se estas indústrias ganham eficiência, vão poder vender mais barato e ampliar o seu mercado. É este o desafio estrutural da nossa pecuária de corte, aumentar a produção, baixar preço e ganhar mais dinheiro”, disse o consultor.

Para cumprir esta etapa, Wedekin afirmou que é necessário aumentar a integração da cadeia produtiva como um todo e, consequentemente, reforçar o controle sobre a produção, a exemplo do que acontece em outras atividades econômicas. “O ciclo de produção de uma lavoura é muito mais controlado. O calendário, o tempo, a tecnologia determinam que este ele precisa ser mais coordenado. Dentro da pecuária, na avicultura e na suinocultura estas atividades são muito mais controladas ainda porque o ciclo de produção é em ambiente controlado, não é uma indústria a céu aberto e tem toda a tecnologia, nutrição, as integradoras, os compradores, então você tem cadeias produtivas muito mais controlada em aves e suínos. […] A pecuária (de corte) é muito a céu aberto, então é uma indústria que precisa passar por uma integração, passar por um processo de gestão que aumente a produtividade na fazenda porque os desníveis de tecnologia, na pecuária, são muito mais altos do que na produção de soja ou de milho”, ponderou.

 Este diferencial de eficiência da cadeia produtiva é um dos fatores que faz, desde 2006, a pecuária perder espaço entre as proteínas concorrentes, advertiu Wedekin. “Agora (a economia) está dando um sinalzinho de melhora. O Natal foi um pouco melhor, a economia pode crescer 2,5% em 2020 e nós não temos produção. A nossa produção, no caso específico de carne bovina, está sendo uma produção muito cara. Desde 2006, quando começou aquela alta estrutural do preço do boi gordo, o preço do frango e do suíno no varejo barateou 30% em relação à carne bovina. Então este é o grande impacto, produtor. Se você tem um preço do boi muito alto, da carne bovina muito alto, você vai perder mercado. É o que aconteceu de 2006 para cá, que o frango e a carne suína ficaram 30% mais baratos que a carne bovina”, comparou o agrônomo.

Ao mesmo tempo, Wedekin destacou que o pecuarista tem uma oportunidade como nenhuma grande indústria, mesmo a frigorífica, tem. “É muito mais fácil ganhar tecnologia na pecuária do que na Nestlè, na JBS, na Boeing ou na Coca-Cola. Na pecuária, você pode baixar 20% do seu custo fixo por animal, você pode aumentar, dobrar a sua produtividade, agora numa Coca-Cola, numa Nestlè você não consegue dobrar a sua tecnologia, a sua produtividade. Então tem aí um dever de casa que a nossa pecuária tem que fazer, e isso obviamente não é simples, isto custa dinheiro, custa investimento, mas eu tenho rodado o Brasil e tenho visto produtores investindo e ganhando mais dinheiro com a pecuária”, informou.

Alguns dos indicadores, segundo o consultor, já indicam que a pecuária de corte está percorrendo o caminho do aumento de sua eficiência. “O abate de fêmeas hoje está em 33, 34, 32%. Esta maior estabilidade do abate de fêmeas significa que está tendo uma tecnificação na pecuária. Nós já não temos mais aquelas grandes oscilações que o abate de fêmeas ia de 30 para 40%”, apontou.

E para ganhar dinheiro com a pecuária de corte, disse Wedekin, o produtor precisa enxerga um horizonte mais longe do que faz hoje. “A pecuária é um negócio de ciclo longo, não se pode pensar na pecuária no horizonte menor do que cinco, dez anos. […] Planejamento do negócio. Como eu disse, a pecuária é um negócio de ciclo longo, você já tem que estar pensando em 2021, 2022 e não tomar decisões no calor da hora. Tocar o seu bonde ganhando tecnologia e aumentando eficiência”, aconselhou.

Wedekin comentou ainda o comportamento atípico dos preços do boi gordo em 2019, que subiram por conta de um aumento súbito da demanda chinesa, cuja importação de carne bovina saltou de 1,5 milhão de toneladas em 2017 (ou 19% de todas as importações mundiais) para mais de 2,6 milhões em 2019 (29% de participação nas importações mundiais). Para ter ideia do impacto do país asiático na cadeia produtiva, ao passo que as importações mundiais de carne bovina aumentaram 15% neste mesmo período de dois anos, saindo de 7,9 para 9,1 milhões de toneladas de carne bovina, somente na China o aumento foi de quase 75%. “Saltos desta natureza não vão acontecer mais. Isto pode gerar uma certa estabilidade e aí a nossa pecuária precisa aumentar a sua velocidade de crescimento e isto passa única e exclusivamente pela gestão do capital do produtor lá na sua fazenda”, indicou.

Fonte: Canal Rural.

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