Maior investimento na fase de recria e um planejamento adequado na terminação dos animais por meio do sistema de confinamento. Essas são as principais orientações de dois especialistas que acompanharam as fases de recria e terminação de bovinos no sistema de Integração Lavoura-Pecuária implantado na Embrapa Milho e Sorgo no período agrícola de 2018/2019.
Durante dia de campo realizado na primeira semana de outubro, os resultados foram apresentados pelos zootecnistas Leandro Sâmia e Bárbara Rodrigues. “Por se tratar de uma fase que apresenta a maior duração na pecuária nacional, uma redução no tempo da recria pode potencializar o ganho de peso, diminuir a idade do abate e melhorar a qualidade da carne. Consequentemente o produtor terá maior giro de capital e mais eficiência no uso da terra”, descreve Leandro, que é professor de Veterinária na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Segundo ele, deve-se buscar sempre animais de maior valor comercial, como bovinos originários de cruzamento industrial entre as raças ½ Nelore e ½ Aberdeen Angus. “Os animais cruzados atingiram um ganho médio diário de 2 kg em 105 dias de confinamento ou sete arrobas nesse mesmo período. Já os animais Nelore alcançaram 1,5 kg por dia ou 5,3 arrobas”, mostra a zootecnista Bárbara Rodrigues, doutoranda da UFMG.
Na visão dos especialistas, o produtor deve levar em consideração que os animais de cruzamento industrial são mais exigentes em relação aos da raça Nelore quanto à alimentação. Em regime de confinamento, a dieta é composta por 80% de concentrado (composto por milho, soja e núcleo, sendo este último uma mistura de fontes proteicas, minerais, vitaminas e aditivos) e 20% de volumoso (silagem de sorgo). “Nesse sistema intensivo, os animais cruzados se sobressaem”, destaca Bárbara Rodrigues.
Ainda segundo ela, o confinamento é uma boa estratégia para o produtor que precisa “terminar” os animais e liberar as pastagens novamente para a fase de recria. “Deve ser bem planejado, levando em consideração seus custos antes da tomada de decisão, para que o investimento seja satisfatório”, pondera. O projeto conduzido na Embrapa Milho e Sorgo tem o objetivo de avaliar o desempenho produtivo e econômico de bovinos zebuínos e cruzados recriados em pastagem em sistema de Integração Lavoura-Pecuária e terminados em confinamento.
Entenda o processo
Os bezerros de sete meses de idade – raças Nelore e ½ Nelore e ½ Aberdeen Angus – entram no sistema no período da seca (junho/julho) para pastejarem em quatro glebas, que totalizam 22 hectares, onde é feita a rotação de cultivos na primavera-verão, com a utilização do sistema de plantio direto. A cada ano, são feitos os seguintes plantios: soja com sobressemeio de capim braquiária ruziziensis, milho consorciado com capim braquiária brizanta e sorgo forrageiro com capim mombaça. O capim mombaça constitui a pastagem de primavera-verão destinada aos animais na recria, sendo subdividida em cinco piquetes de 1,1 hectare cada, utilizados em sistema de pastejo rotacionado.
Os bezerros ficam de julho até o início do período das águas nas glebas de braquiária e depois vão para os piquetes rotacionados de capim mombaça. Esse sistema suporta os animais até maio ou junho do ano seguinte, quando entram para o confinamento. A soja, o milho e o sorgo são usados como alimentos na fase de terminação, tanto como silagem quanto como grãos na elaboração de concentrado. O experimento já vem sendo conduzido há 14 anos por uma equipe coordenada pelo pesquisador Ramon Costa Alvarenga, da Embrapa Milho e Sorgo.
Pastagens em sistema de integração
O plantio das culturas em cada gleba é feito de forma rotacionada. Assim, na gleba onde foi plantada soja no ano anterior, será feita a lavoura de milho-capim. Onde foi milho com braquiária será sorgo com capim. Onde foi sorgo-mombaça será pastagem; e onde foi pastagem será soja.
O sistema de rotação oferece vantagens tanto para a agricultura quanto para a pecuária. No caso das lavouras, a rotação e a sucessão com capim melhora a estrutura do solo, promove maior aproveitamento de nutrientes, inclusive a reciclagem, diminui a pressão de pragas e aumenta a matéria orgânica, a disponibilidade de água no terreno e a quantidade de palhada, indispensável ao sistema de plantio direto.
Para a pecuária, os nutrientes residuais das fertilizações das lavouras possibilitam a produção de forragem, especialmente no período da seca, a recuperação da produtividade da pastagem e a economia na implantação das áreas de pastejo.
A ILP intensifica o uso da propriedade e reduz os custos de produção, além de aumentar a estabilidade de renda do produtor. “Mesmo com as condições de distribuição irregular de chuva na região, temos conseguido produções satisfatórias em sistema de sequeiro”, mostra o pesquisador Ramon Alvarenga, reforçando as vantagens do plantio direto e da integração.
Tendência no mercado brasileiro
O sistema intensivo de engorda atende ao mercado de carnes premium, em que é oferecido um animal com bom acabamento de carcaça e abatido precocemente. Se atendidas essas exigências, o produtor consegue um preço melhor pelo produto. A iniciativa é da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), sendo que protocolos de rastreabilidade com menção de raças bovinas nos rótulos conferem uma certificação ainda maior à carne, pois são informadas as garantias que serão repassadas ao serviço de inspeção.
As carnes premium são tendência no mercado brasileiro. Para abastecer esse setor, de acordo com o médico veterinário Fabiano Alvim, da empresa De Heus Animal Nutrition, que atua na promoção da cadeia produtiva da pecuária, é necessário investir em nutrição e genética, além de se buscar um manejo eficiente de pastagens, com técnicas de semiconfinamento ou confinamento. “Por melhor que seja o manejo da pastagem, o pecuarista não consegue abater esse boi com menos de três anos. É aí que entram essas duas ferramentas, de semiconfinamento ou confinamento. Dessa forma, conseguimos antecipar o abate dos animais, com maior peso, oferecer um rendimento de carcaça bem acima dos 50% e aumentar a eficiência do sistema”, explica o veterinário.
Guilherme Viana (MG 06566 JP)
Embrapa Milho e Sorgo
Fonte: Site da Embrapa.